Olho meu rosto refletido no espelho do banheiro, dimensiono o estrago que fiz em meu belo rosto, e sofro, simplesmente sofro, sofro por ser mais uma sonhadora, mais uma mulher cheia de manias, arrependimentos, graves defeitos e brandas qualidades, sofro, simplesmente sofro.
Durmo acordada, acordo para uma vida que eu mesmo moldei, uma vida que julguei a mais aprazivel a mais correta pra mim.Correta? Palavra estranha aos meus ouvidos.Eu que julguei e verdade, com medidas alheias, com pesos que certamente não são os meus, ou não eram, agora tanto faz.
Hoje vejo como sou fraca, como sou egoista, como estou, sou sempre a mesma, sorrindo quando tenho vontade de chorar, chorando à toa, só pra não perder o costume.
Eu sou muito complicada.Às vezes acho que as pessoas têm que ser justamente como quero.Desejo tranforma-las naquilo que julgo ser o melhor pra mim.Sinto medo.Sinto medo constantemte.
Escondo-me nos escombros de uma coração dilacerado, atormentada por fantasmas criados por mim mesma, fantasmas com as minhas feições.
Vejo novamente meu reflexo refletido no espelho do banheiro, nem mesmo posso chorar, nem mesmo posso sorrir, figura patética consumida por uma dor invisível, feito todas as dores.
Vivo esperando um amor colossal, acreditando em seriado enlatado, prícipe encantando de mentira, acreditando em tudo que é comedia rômatica.Eu sonhava com o amor, sem coragem para realizá-lo, me escondi atrás de uma máscara de contentamento e falsa alegria.Sorria como se fosse a mulher mais amada da face da terra, chorava como a pior mulher da historia.
Vejo meus olhos vermelhos refletidos no espelho do banheiro, enquanto escrevo choro.
Não quero mais me destruir, não quero mais esse rosto que não fez nada de bom para meu próprio orgulho.Solto um grito rouco, arrebento o espelho, que me aterroriza, destruo a imagem do fracasso em mim personificada, ponho um fim.
Minhas mãos sangram, sinto a fragrância preenchendo o ar, um misto de ferrugem com sal cor de escarlate, eu sangro, ainda vivo.Ainda há tempo, sinto meu coração batendo calmo, manso, como a muito não sentia, recobro a razão perdida há séculos.
Sento no chão gelado, repouso a cabeça sobre meus joelhos, respiro fundo e adormeço.
Posso sentir a felicidade acariciando meu rosto finalmente.